segunda-feira, 27 de março de 2017

O MEU NOBEL - 7 Albert Camus, o estrangeiro


O pensamento camusiano é, com certeza, dos mais controversos e complexos que marcam todos os que o compreendem, desde o “suicídio filosófico” até à absurda liberdade e criação, evidenciando-se os paradoxos (oxímoros?) constantes na própria existência, sendo o mesmo, notoriamente, uma reflexão sobre o tudo.
Para Camus, Prémio Nobel da Literatura em 1957, é uma evidente tentativa de compreensão do que o rodeia, acabando por cair numa certa neutralidade fictícia, pois dentro de si viaja um tornado de pensamentos, embora nunca os consiga exteriorizar. Algo interessante de referir é o facto de o filósofo usar quase sempre frases declarativas na sua escrita, não demonstrando emoções, o que acaba por acentuar a sua indiferença meramente aparente. Quase me atrevo a comparar o seu tumulto interior ao segundo andamento da famosíssima obra “A Sagração da Primavera” de Igor Stravinsky, “O Sacrifício”, onde, para quem o ouve pela primeira vez (ou, até mesmo, a obra completa) acaba por estranhar e por não compreender a genialidade da obra (da primeira vez que o compositor apresentou a mesma, os espectadores, assim que o concerto acabou, atiraram ao palco as cadeiras onde estavam sentados!). Camus não compreendia o mundo e, paralelamente, o mundo não o compreendia, caindo, assim, em diversas reflexões sobre a sociedade da qual ele é um mero passageiro.
De certo modo, o autor considera-se, como já referi, um passageiro no mundo, derivando daí o seu livro mais célebre, “O Estrangeiro”, o qual retrata acontecimentos da vida de um indivíduo que leva uma vida banal cuja, mais tarde, toma um rumo inesperado. A primeira frase desta obra é “Hoje, a mãe morreu.”, o que começa por demonstrar o caráter absurdo e existencialista de Sr. Meursault, o personagem principal da obra. Este indivíduo vive num pequeno apartamento, isolado e alheio ao mundo, até que um vizinho seu começa a interagir com ele, mas Meursault não demonstra qualquer interesse em desenvolver uma amizade com esse indivíduo, visto que o mesmo era inculto, rude e bastante violento. No entanto Meursault continua a relacionar-se com Raimundo, mas nunca se deixando afetar pelo mesmo, mostrando uma indiferença constante. No entanto, uma mulher captou a atenção deste “passageiro”, Maria, apaixonando-se por ela, mas nunca perdendo a sua passividade perante a vida. A certa altura da história, Meursault, Maria, Raimundo e outros amigos seus decidem passar férias, viajando até uma casa à beira mar, onde, certo dia, uns indivíduos Árabes decidem “atacar” Meursault e os seus amigos, e este acaba por matar um desses Árabes a tiro, cruelmente. Esta morte é significativa para a compreensão da obra e da corrente filosófica presente na mesma e, de igual modo, para o desenrolar da história deste, até então, indivíduo ordinário. Na segunda parte da obra, Meursault é julgado pelo seu crime; no entanto este não demonstra quaisquer remorsos e relevância perante a situação, mantendo sempre a sua postura desinteressada.
Durante o julgamento, a frieza de Meursault é bastante enfatizada, e um dos factos que sustenta a sua frieza é o mesmo não ter mostrado qualquer emoção no que toca à morte da sua mãe, sendo o mesmo condenado à pena de morte. Por fim, a obra termina com Meursault a pensar para si mesmo: “Para que tudo ficasse consumado, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muito público no dia da minha execução e que os espectadores me recebessem com gritos de ódio.”
Em suma: esta obra retrata claramente a filosofia existencialista e niilista de Camus de uma forma direta e simples, levando o leitor a refletir sobre o enredo da história e, de igual modo, sobre o pensamento do conceituado filósofo.
“Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado.” – Albert Camus

Luciano Gomes, 12º E

0 comentários :

Enviar um comentário

Os comentários anónimos serão rejeitados.